terça-feira, 9 de abril de 2013

Introdução

        O objetivo desse blog é fornecer informações de forma sucinta, prática e divertida sobre a formação da língua portuguesa nesse país enorme que é o Brasil. Duas grandes influências decisivas na diferenciação do português brasileiro para o português europeu foram: a influência indígena, e a influência africana.

        A 1º influência linguística que o Brasil sofreu foi a indígena, pois o número da população indígena no Brasil por volta de 1600 era evidentemente superior se comparado ao número da população europeia. Por isso nas regiões mais internas do Brasil, onde o fluxo de imigrantes portugueses era menor, não se falava nem português, e nem tupi guarani, e sim uma terceira língua que era o resultado da fusão das duas primeiras: a língua geral.




         A expressão ”língua geral” tomou um sentido bem definido no Brasil nos séculos XVII e XVIII, quando, tanto em São Paulo como no Maranhão e Pará, passou a designar as línguas de origem indígena faladas, nas respectivas províncias, por toda a população originada no cruzamento de europeus e índios tupi-guaranis (especificamente os tupis em São Paulo e os tupinambás no Maranhão e Pará), à qual se foi agregando um contingente de origem africana e contingentes de vários outros povos indígenas, incorporados ao regime colonial, em geral na qualidade de escravos ou de índios de missão.

           Com o aumento do fluxo migratório de portugueses para o Brasil, e os problemas sociais sofridos pelos índios (perseguição dos jesuítas, genocídios, escravidão...) a língua geral, no fim do século XVIII, passa a ter seu uso proibido pela coroa portuguesa, sob a gestão do marquês de Pombal o seu uso, punindo severamente quem a utilizasse, impondo-se o idioma português.

Apesar de não ser mais tão presente no português atual, o tupi deixou grandes e profundas marcas em nossa língua, topônimos que são usados até hoje: o nome dado a pequena rã típica do Brasil é perereca, esse nome provem do verbo “pererek” que eu tupi antigo significa pular.

       


          A influência deixada pelos negros também foi grande, porém essa influencia aborda muito o lado cultural, além do lado linguístico. Na visão do linguista americano Gregory R. Guy, houve realmente um falar crioulo no Brasil, mas essa fala foi baseada no vocabulário português, mas com grande simplificação gramatical. Essa fala se originou no sec. XVII, pois foi uma época com grande fluxo (forçado) de africanos, para trabalharem como escravos aqui no Brasil.

            Essa teoria de Gregory R. Guy é muito contestada aqui no Brasil, pois diferentemente dos negros que foram para os EUA, os escravos brasileiros já haviam tido um primeiro contato com a língua portuguesa, e já estavam familiarizados com a mesma.

            Uma teoria mais favorável a nossa realidade é a de Emilio Bonvini, que defende que os vocábulos de origem africana presentes no português do Brasil provêm de uma necessidade de suprir a falta de expressão para uma determinada ação ou objeto. O nome dado por Emilio para esse fenômeno é o de “empréstimo linguístico”.



         No Brasil dessa época, não foram criadas nem universidades, nem imprensa escrita, uma grande diferença, se comparada às colônias espanholas americanas, onde a Espanha tratou de criar universidades.  Como consequência a essa falta de incentivo, surge no Brasil um fenômeno chamado de diglossia, que é uma espécie de bilinguismo social, onde a parte a elite da população falava um português diferente do usado na comunicação popular, é importante lembrarmos também que apenas a já citada elite, tinha acesso à escrita e a transmissão escolar.

         Esse “bilinguismo” é resultado de um contato muitas vezes forçado, de populações falantes de línguas bastante diferentes, por isso a comunicação dos escravos, dos povos indígenas assimilados a sociedade colonial, e a da população rural pobre era recheada de mesclas linguísticas e de variação.

         Em São Paulo, com a presença dos bandeirantes, índios nativos e portugueses surgiu uma população mestiça cuja língua materna era o tupi das mães e também o português do pai . Falava-se correntemente a língua original indígena e apenas o marido e, a partir de certa idade, os filhos falavam português. Por muito mais de cem anos a língua geral foi a língua dos paulistas.

         Com a independência  política de 1822, começam a surgir no Brasil sentimentos antilusitanos e nacionalistas. E foi em meio a esse contraditório conjunto de valores que se desenvolveu a nossa literatura indianista, que buscava criar um sentimento nacionalista através do nosso “passado americano” com raízes indígenas. Mesmo com toda essa valorização do passado americano, porém a língua geral há muito já havia sido perdida.



Bibliografia:

RODRIGUES, Aryon Dall'Igna. As línguas gerais sul-americanas. PAPIA: Revista Brasileira de Estudos Crioulos e Similares, São Paulo, 1996.

BEARZOTI, Filho Paulo. A formação linguística do Brasil. Nova Didática editora, Curitiba, 2002.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método moderno de tupi antigo. Globo, São Paulo, 2006.

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