sexta-feira, 24 de maio de 2013

As diferenças do português europeu do português brasileiro – Parte II

Algumas características peculiares do português brasileiro em comparação com o português europeu citadas por Paul Teyssier:

1 -     No Brasil pronúncia-se o –s e –z de forma implosiva – Teyssier define da seguinte forma nosso –s e –z:

“...os -s e os -z implosivos são sibilantes, realizados como [s] em final absoluto (atrás, uma vez) ou diante de consoante surda (vista, faz frio), e como [z] diante de consoante sonora (mesmo, atrás dele)...”.

Em Portugal a pronuncia chiante de -s e -z em final de palavras cria um iode. Por exemplo, a palavra atrás é pronunciada como [atrayš] ou então a palavra luz se torna [luyš].


2 - Pronúncia das vogais átonas – No Brasil ocorre a pronúncia de vogais átonas, além disso também ocorre que as pretônicas são realizadas com o “a” aberto como na palavra cadeira.

3 - Inovações fonéticas do século XIX – No  Brasil ocorre a pronúncia do [ẹy] para o ditongo, como por exemplo podemos citar as palavras  lei e primeiro.

4 - Os timbres abertos e fechados, nas vogais a, e e o, são neutralizados no Brasil diante  das consoantes nasais.

5 - Tendência de suprimir o r no final das palavras, dessa forma palavras como doutor e fazer são pronunciadas respectivamente como doutô e fazê.

6 - “O giro estar + gerúndio, que em Portugal cada vez mais se acantona na língua escrita (salvo em certas regiões), e que nos registros mais freqüentes da língua fala da vem substituído por estar a + infinitivo, é, no Brasil, geralem todos os registros; ex.: está escrevendo. O Brasil conserva a possibilidade de empregar os possessivos sem artigo em casos em que Portugal já não o faz; ex.: meu carro.”

7 - “...brasileirismos - dezesseis por dezasseis, dezessete por dezassete, menor paralelamente a mais pequeno...”


8 – Existe uma certa distinção no vocabulário português do Brasil comparado ao de Portugal, alguns exemplos são:


Brasil
Portugal

Trem
Comboio
Ônibus
Autocarro
Bonde
Eléctrico
Aeromoça
Hospedera
Espátula
Faca de cortar papel
/corta papel
Terno
Fato
Metrô
Metro

Bibliograia - TEYSSIER, P. “O português do Brasil”. [Cap. IV, p. 93 e ss]. In.: História da língua portuguesa. [Trad. Celso Cunha]. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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quinta-feira, 16 de maio de 2013

As diferenças do português europeu do português brasileiro - Parte I

       Quando os portugueses chegaram aqui, o Brasil era povoado pelos índios, posteriormente os escravos vindos da África também habitariam o território brasileiro. Dessa forma, o Brasil se encontrava habitado por índios, negros e portugueses.

 Os colonos portugueses falavam a principio sua língua nativa, o português europeu, e inclusive oficializaram-no como língua nacional.  A língua portuguesa lentamente ganhou espaço no Brasil, eliminando gradativamente a língua-geral, língua de base Tupi, que predominava até a segunda metade do século XVIII.

É a partir do século XVIII que são feitos os primeiros relatos e análise dos traços específicos referentes à língua portuguesa brasileira tendo como base a língua portuguesa europeia, Frei Luís do Monte Carmelo em sua obra Compendio Orthographia destaca um traço fonético característico do português brasileiro, o de não fazer a distinção entre as pretônicas abertas e fechadas:




Em 1822, em obra intitulada Grammatica Philosophica , Jerónimo Soares Barbosa destaca outra característica, além da indistinção entre pretônicas abertas e fechadas, na língua portuguesa no brasil, o brasileiro não pronúncia minino e sim menino, ou ainda me deu e sim mi deu, além disso, não chiam -s implosivos como, por exemplo, na palavra mistérios.

As particularidades do português do Brasil são atualmente explicadas pela ideia de seleção de certas características através da exclusão dos traços marcados do português do Norte e generalização das maneiras não marcadas do Centro-Sul de Portugal. Além do motivo da emigração da língua e seleção referente à regionalidade da sua terra de origem, é importante lembrar das diferenças linguísticas nos falares regionais e rurais que surgiram dentro do próprio Brasil. Mesmo com tantas variações na língua foi possível nas cidades, através das camadas sociocultural superiores, a criação de uma norma brasileira.

O nosso português pode ser considerado conservador já que não seguiu as tendências europeias da língua, contudo, ele também é inovador já que, realizou transformações fonéticas desconhecidas do europeu português.

Bibliografia - TEYSSIER, P. “O português do Brasil”. [Cap. IV, p. 93 e ss]. In.: História da língua portuguesa. [Trad. Celso Cunha]. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

domingo, 5 de maio de 2013

A formação da língua portuguesa do Brasil: o contato com a África

           A cultura africana, certamente, contribuiu muito para que a cultura brasileira chegasse ao seu estado atual. Seja na música, culinária, folclore, entre outros, fomos muito influenciados pelos negros, principalmente por aqueles vieram ao nosso país como escravos. O blog A Língua do Brasil tratará do tema dos traços linguísticos provenientes do contato do português com as línguas africanas.

            A presença de vocábulos de origem africana no português falado no Brasil já foi interpretada de diversas maneiras. Há estudiosos, como Renato Mendonça no livro A influência africana no português do Brasil (1953), que defendem justamente a noção de “influência” das línguas africana no português brasileiro. Outros, como Serafim da Silva Neto, se referem à hipótese de uma crioulização prévia da língua portuguesa. Além de muitas outras teorias, destaca-se a de que houve um “empréstimo linguístico” feito pelo português. Essa ideia é defendida por Emilio Bonvini em Os vocábulos de origem africana na constituição do português falado no Brasil, publicado no livro África no Brasil – a formação da língua portuguesa (FIORIN; PETTER).

            Para efeito de análise, blog levará em conta a interpretação de “empréstimo linguístico”, que parece mais adequado do que outras acepções.

            A apropriação de termos linguísticos de origem africana pelo português se deu, principalmente, pelas relações sociais entre negros e brasileiros advindas do trabalho escravo. Nas palavras de Bonvini, esses empréstimos foram essencialmente obra de falantes do português que, para expressar uma realidade diferente daquela que era, inicialmente, a sua, emprestaram das línguas africanas as palavras que a designavam, conseguindo assim integrar essas mesmas palavras ao português, depois de um tratamento linguístico apropriado. (BONVINI, 2008, p. 101-144)

            É importante ressaltar que o léxico surgido através desses empréstimos não é homogêneo e diz respeito a diferentes esferas da vida cotidiana, como escravidão, economia açucareira, produção de minérios, vida urbana, religião etc.

            O registro de vocábulos de origem africana no português do Brasil não é recente. No século XIX, foram registradas palavras como: batuque, caçula, cochilar, fuxicar, mandinga, quindim, quitanda, entre outras. No século XX, essa lista aumenta consideravelmente.

            A grande maioria dos termos de origem africana foi registrada por Macedo Soares e Beaurepaire-Rohan. Entre os vocábulos encontrados nos trabalhos deles, há muitos que conservam atualmente o mesmo significado do período em que foram registrados, como cachimbo, carimbo, missanga, quitute. Há, também, alguns que possuem contemporaneamente um significado diferente daquele registrado. Por exemplo, à palavra muamba é atribuído, pelos dois autores, o significado de “fraude, engano doloso, velhacaria”, que não parece ter muito a ver com o sentido atual da palavra (“produto comercializado ilegalmente”).

            Em geral, os vocábulos de origem africana se referem a realidades específicas do contexto de escravidão. Mesmo assim, são inegáveis a contribuição e o enriquecimento que o empréstimo linguístico de termos africanos trouxe à língua portuguesa falada no Brasil.

Algumas palavras de origem africana emprestadas à língua portuguesa:

BANGUELA
BUNDA
CACHAÇA
CACHIMBO
CAÇULA
CAFUNÉ
CANGA
CARIMBO
COCHILAR
CORUNDA
DENGO
FUBÁ
MACACO
MIÇANGA
MOLEGUE
QUILOMBO
QUITANDA
QUITUTE
SENZALA
TANGA